Por muito tempo mulheres tiveram suas produções excluídas e apagadas em áreas com como engenharia, arquitetura e design. Há e sempre existiram mulheres arquitetas, planejadoras e políticas urbanas inspiradoras, mas em todo o mundo, as profissões de ambiente construído – e em particular seus escalões superiores – permanecem fortemente dominadas por homens, mais do que outras esferas, como educação ou saúde.
O livro Woman Made: Great Women Designers da autora Jane Hall reúne mais mais de 200 designers de mais de 50 países, incluindo ícones e pioneiros do passado e do presente, como Ray Eames, Eileen Gray, Florence Knoll, Ilse Crawford, Faye Toogood, Nathalie du Pasquier, ele registrando história fascinante e esquecida das mulheres proeminente no campo.
Mulheres e o estereótipo de gênero
As mulheres representam mais da metade dos designers hoje, mas em 2019, elas ocupavam apenas 11% dos cargos de liderança na área. O Woman Made faz parte de um movimento recente para reconhecer o papel que as mulheres desempenharam, e continuam a desempenhar, na formação do mundo em que vivemos. Na esfera do design, que tem sido desproporcionalmente dominada por homens, o movimento reflete que o design feminino tem menos a ver com uma aparência ou estilo específico – e mais sobre design com um propósito, seja ele social, cultural ou ambiental.
Com produtos que variam de móveis e têxteis a utensílios domésticos e iluminação, o livro narra uma série de produtos que foram projetados especificamente para o lar – um lugar que foi repleto de estereótipos de gênero por séculos.
A casa é um espaço contestado que geralmente é emoldurado por gênero. — Jane Hall
Woman Made aborda esse estereótipo de frente, usando a casa como um catalisador para explorar os papéis centrais das mulheres no design ao longo do século XX. No início dos anos 1900 o lar era o centro da vida doméstica. Então, à medida que as mulheres em todo o mundo conquistaram lentamente o direito de voto, ganharam um papel maior na sociedade e o lar se tornou um espaço mais dinâmico.
Em 1926, por exemplo, a arquiteta austríaca Margarete Schütte-Lihotzky projetou a agora icônica cozinha de Frankfurt. Considerada a precursora da cozinha moderna, tinha fogão elétrico, janela sobre a pia e muita arrumação embutida. “Isso não emancipou as mulheres daquele papel que tinham na cozinha, mas tentou torná-las mais eficientes nisso”, diz Hall. “É estranhamente antifeminista, mas, pela primeira vez, alguém estava pensando na vida das mulheres.”
As mulheres não foram apenas instrumentais na formação dos lares ocidentais, mas também influenciaram os espaços domésticos em todo o mundo. Nas Filipinas, Berenguer-Topacio foi uma das primeiras designers de interiores do país na década de 1950 e dirigiu uma empresa de móveis de sucesso por mais de 50 anos (sua cadeira Klismos usava cana trançada de origem local).
No Brasil, a arquiteta italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi conseguiu se inserir num mundo dominado por homens, criando projetos de sucesso como o MASP, O Sesc Pompéia e multiplicando as suas criações para além das obras com projetos como a cadeira Girafa.
Feminismo e design
Ao longo do século passado, as designers femininas estiveram na vanguarda da inovação. Uma das peças de mobiliário mais antigas em destaque no livro é a cadeira Bibendum de Eileen Gray, de 1926. Nos anos 20, designers como a russa Belle Kogan (muitas vezes referida como a madrinha do design industrial nos Estados Unidos) trabalhavam com metal e usavam técnicas modernas.
Na Bauhaus, estudantes como Gunta Stolz e Marianne Brandt tiveram que enfrentar uma longa batalha para participar de aulas exclusivamente dedicada a homens e mostrar para seus professores que não queriam se limitar apenas à costura. As lâmpadas, as cortinas e até as fotografias tiradas na época, eram o trabalho de mulheres cujos nomes passaram quase despercebidos na história da escola.
Independentemente da época, nenhum produto apresentou aparência ou sensação particularmente “feminina”. Esqueça detalhes curvilíneos e tons rosa. O traço comum aqui não é o gênero, é o que a autora do livro chama de “metodologia de design feminista”, que pode ser definida como um esforço geral para projetar produtos que sejam sustentáveis, enraizados em tradições culturais e acessíveis a todos.
Em última análise, o livro trata menos de tornar as mulheres mais visíveis e mais de tornar as identidades marginalizadas mais visíveis por meio do design. Talvez as mulheres se destaquem nisso precisamente porque foram marginalizadas por tanto tempo.
Via Tabulla.